O
inútil esforço de justiça
“Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus por meio de
nosso Senhor Jesus Cristo” (Romanos 5.1)
Um grande problema que existe entre o homem e a
Bíblia está na maneira como nos vemos e como a ela, a revelação específica de
Deus, nos vê. Iludimo-nos em acreditar que somos, de alguma maneira, bons e
justos e que, de alguma forma, somos úteis para Deus. Enganamo-nos com o
pensamento do filosofo francês Jean Jacque Rousseau (1712-1778) de que o homem
nasceu bom, mas se tornou mau em contato com o mundo ai seu redor. É mera
ingenuidade crer que o homem é mal em uma circunstância ou por algum tempo.
Davi afirma no Salmo 51.5: “eu nasci na iniquidade, e em pecado me concebeu minha mãe”.
Dessa maneira, o pecado não é um deslize imposto pela sociedade, tampouco uma
tendência que adotamos quando crescemos. Assim como pequenas serpentes possuem
tanto ou maior veneno que as adultas, até as crianças mais doces nascem mergulhadas
no pecado que só poderão vencer pela graça sobrenatural de Jesus Cristo. Não há
idade em que somos menos susceptíveis às investidas do mundo, pois, em cada
idade, temos desafios diferentes, tampouco pecados fáceis.
Uma história que ilustra essa realidade é O Retrato de Dorian Gray do autor inglês
Oscar Wilde (1854-1900). Nessa história, Dorian é um rapaz muito bonito que tem
seu quadro pintado, mas, quando vê sua beleza no quadro pede para que o quadro
envelheça, mas ele continue jovem. Entrega-se a uma vida de devassidão. Como
pedido, o desenho registra toda a sua deterioração, por isso, o trancafia em um
dos quartos de sua casa. Parte a fim de morar no campo e buscar uma vida de abnegação
para ver se pelas boas obras poderia modificar a sinistra imagem de sua ama que
o quadro lhe gritava. Depois de tempos mergulhado em conduta exemplar. Quando
volta a sua casa e entra no quarto constata uma verdade difícil nenhuma boa
disposição ou ação humana pode mudar o coração onde só Deus pode operar.
1. Justificados
Existe um momento em que, como Dorian, constatamos o
deplorável estado de nossa alma. Percebemo-nos injustos. Nessas horas, há somente
duas atitudes possíveis: buscar nossa própria justiça ou nos entregarmos à
justiça de outra pessoa. Segundo a Confissão de Westminster (XI.1) “a justificação não consiste em Deus
infundir neles a justiça, mas em perdoar os seus pecados e em considerar e
aceitar as suas pessoas como justas”. Portanto, podemos nos fiar em
desculpas esfarrapadas, nas quais colocamos a culpa de nossos pecados nas
circunstâncias ou na nossa pouca experiência? Obviamente, não.
O pecado é como uma conta, que só pode ser paga.
Essa conta chamada pecado foi contraída por nossos primeiros pais no Éden
quando comeram do fruto do conhecimento do bem e do mal. Paulo afirma que o
salário do pecado é a morte (Romanos 6.23). Dessa maneira, não temos condições
de pagar essa dívida. Seria como se devêssemos a um rei o equivalente a 164.000
dias de trabalhos (contando sábados, domingos e feriados). Jamais pagaríamos
sem morrer. Contudo Jesus, o único que poderia pagar esse débito em nosso
lugar, porque é Deus e homem ao mesmo tempo, “Deus fez daquele que não tinha pecado algum a oferta por todos os
nossos pecados, a fim de que nele nos tornássemos justiça de Deus” (2Cor
5.21).
Deus é justo e misericordioso. Não poderia nos
perdoar sem corromper sua justiça, então, porque “amou o mundo de tal maneira deu seu Filho ao mundo para que todo
aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (João 3.16). A ira
de Deus que estava destinada a nós caiu sobre Jesus, por isso, o Pai se agradou
em moer o próprio filho para que a sua posteridade tenha seus dias prolongados
(Isaías 53.10).
O homem não é justo, não pode existir nenhum justo
sequer (Romanos 3.10), mas ele é justificado nos méritos de Jesus Cristo e no
seu sangue derramado na cruz do calvário. Esse é o aspecto negativo da
justificação: Deus não leva em consideração os nossos pecados.
2. Mediante
a fé
A
fé é “o firme fundamento das coisas que
se esperam, e a prova das coisas que não se veem” (Hebreus 11.1), assim
como um dom de Deus aos eleitos (Efésios 2.8). A fé em Jesus Cristo é o único
meio de alcançar a essa justiça, o fim dos débitos contraídos no Éden por
nossos primeiros pais. Segundo a Confissão de Westminster “Esta fé é de diferentes graus, é fraca ou forte; pode ser muitas vezes
e de muitos modos assaltada e enfraquecida, mas sempre alcança a vitória, atingindo
em muitos a uma perfeita segurança em Cristo, que é não somente o autor, como
também o consumador da fé” (XIV.3). Paulo mostra em Romanos 4 que Abraão
creu e isso foi lhe imputado (foi declarado) como justiça (Romanos 4.3)
3. Temos
paz com Deus
Quem saboreou o doce gosto da paz? A paz que
conhecemos é sempre um sonho que dura enquanto as pessoas recarregam suas
armas. Um bem perecível a tantas oscilações internas e externas. O missionário
indiano Sundar Singh, ainda no hinduísmo pagão de sua juventude, buscava esse
bem tão raro. Procurou no Alcorão (livro sagrados dos Mulçumanos) e nos Vedas
(livro sagrados do Hinduísmo), a qual encontrou apenas em Jesus Cristo como
declarou: “caí ao seus pés e senti essa
paz maravilhosa que não havia encontrado em outro lugar. Era essa a paz que eu
buscava. Aquilo era o próprio céu. Quando me levantei, a visão tinha
desaparecido, mas a paz e a alegria permaneceram comigo ara sempre”.
Esse é o aspecto positivo da justificação: ter paz
com Deus. Nós éramos filhos da desobediência (Efésios 2.2), andávamos segundo
os desejos de nossa carne (Efésios 2.3), “mas
Deus, sendo rico em misericórdia, pelo seu muito amor com que nos amou, estando
nós ainda mortos em nossos delitos, nos vivificou juntamente com Cristo pela
graça sois salvos” (Efésios 2.4,5).
Estávamos correndo quais bandidos correndo do polícia.
Um dia vimos que não adiantava mais correr por isso nos entregamos e a arma que
nos ameaçava foi abaixada. Não adiante corrermos do Senhor, se continuarmos
nessa trajetória seremos surpreendidos por um juiz a quem não se pode enganar,
nem subornar, mas se nos rendermos ao seu amor infinito seremos novas criaturas
imbuídas da paz inabalável, a paz com Deus. O contrário seria um inútil esforço
de justiça.
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