“Ao entrar a arca da Aliança
do SENHOR na Cidade de Davi, Mical, filha de Saul, estava olhando pela janela
e, vendo ao rei Davi dançando e folgando, o desprezou no seu coração” (1 Crônicas 15.29).
Mical era a filha mais nova de Saul e foi dada em
casamento a Davi para saldar a dívida com aquele que matara o terrível Golias
ao invés de Merabe – a mais velha. Por ela, dera um dota a Saul de cem
prepúcios filisteus (1Sm 18.27). Contudo esse casamento, que parecia selar uma
união definitiva entre os dois primeiros reis de Israel foi maculado pela ira
cega de Saul, que percebia se cumprir a profecia de Samuel: “o Senhor rasgou, hoje, de ti o reino de
Israel e o deu ao teu próximo, que é melhor do que tu” (1Sm 15.28).
Mical amava Davi (1Sm 18.20) e chega a salvá-lo de seu
pai (1Sm 19.12). Apesar do amor que nutria por aquele bravo guerreiro que, como
as mulheres cantavam, matara dezenas de milhares (1Sm 18.7), não o acompanhou
nem na fuga, tampouco depois. Como parecia abandonada foi dada a Palti, quando
Davi já tinha se casado com Abigail (mulher de Nabal). Todavia, ao fazer
aliança, com Abner exige a devolução sua primeira esposa.
Davi está introduzindo, em extrema alegria a Arca da
Aliança em Jerusalém, e esse estado é justificado, porque havia feito uma
tentativa frustrada de retirar a Arca de Queriate Jearim, onde ficara por vinte
anos na casa de Aminadabe, Eliézer, Aiô e Uzá, mas por querer fazer de forma
equivocada, pois ao invés de transportá-la com vara como mandava a Lei (Êx 27.7),
mas com carros de bois como fizeram os Filisteus (1Sm 6.10-12). Essa tentativa
foi desastrosa, porque terminou com a morte de Uzá, que foi fulminado tentando
segurar a Arca quando os bois tropeçaram (2Sm 6.6-8). Nessa segunda tentativa,
buscou agir sem inovações, mas conforme a Palavra e teve êxito. Isso produziu
em seu coração grande alegria.
Não nos enganemos de que nossa comunhão com o Senhor é
vista por todos. Nossa satisfação no Senhor é vista por muitas pessoas como
irracional e digna de desprezo. A genuína vida cristã é claramente compreendida
apenas por aqueles que compartilham dela no Espírito Santo, ou seja, aqueles
que tiveram seus corações abertos pelo milagre da regeneração. Os demais indivíduos
se contentam com uma religiosidade cheia de distinções e limites
preestabelecidos e estão prontos a condenar os supostos excessos como fanatismo
ou loucura.
Mical é uma mulher amargurada que se apaixonou muito mais
por uma ideia do homem que Davi seria do que por quem ele realmente era. Uma
mulher se apaixonou pelo guerreiro ou por um rei forte, mas descartou o melhor
daquilo que Davi era. Ela despreza Davi por causa de três problemas: teológico-arrogância,
social-orgulho e pessoal-inveja.
O problema
teológico da Primeira esposa de Davi se dava na falsa crença de que sua
adoração era um “gloriar-se” e um “descobrir-se, revelar-se” indigno a um
Rei, pois no seu sarcasmo afirma: “Como se cobriu de glória o rei de Israel,
descobrindo-se à vista das servas dos seus ministros, como faria um palhaço
qualquer” (1Sm 6.20). Lembremo-nos de que seu pai, Saul, não era conhecido por
sua piedade. Era algo improvável estar entre os profetas (1Sm 10.12), não
consegue esperar Samuel para oferecer o sacrifício, o que lhe era vedado fazer
(1Sm 13.10-13), tampouco foi capaz de obedecer a ordem se dizimar tudo em
Amaleque (1Sm 15.10-16). No final da vida, consulta uma necromante (ou medium)
para de alguma maneira se orientar o que o faz mais condenável (1Sm 28, veja a
proibição Lv 19.31; 20.6,27; Dt 18.11). Cuidado! Não estou defendendo de que as
crianças são uma continuação dos pais, reconheço, como a Palavra, que alma que
pecar essa morrerá (Ez 18.4), mas muito de nossa formação ou deformação é
influenciada pela educação familiar.
Esse testemunho duvidoso de religião foi oferecido a
Mical desde a mais tenra idade. Foi lhe transmitida a ideia enganosa de que os
desejos do Rei regulavam até mesmo o culto. Davi entende diferente: “perante o SENHOR, que me escolheu a mim
antes que teu pai e toda a sua casa, mandando-me que fosse chefe do povo do
SENHOR, sobre Israel, perante o Senhor tenho me alegrado e mais desprezível me
farei e me humilharei aos meus olhos e, quanto às servas, de quem falaste, elas
serei honrado” (2Sm 6.21,22).
Davi entende que ele, por ser Rei, não era melhor diante
do Senhor do que todo o povo. O Senhor ouve a mesma oração do Governante e do
governado. Em Nínive, o mesmo arrependimento requerido do povo foi praticado
pelo Rei (Jn 3.6).
O problema teológico de Mical é arrogância, contudo,
quando vemos o descendente de Davi – Jesus – que se assenta no trono
eternamente para um reinado sem fim, Paulo afirma: “a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de um servo” (Fl 2.7)
O problema
social de Mical é identificado no fato de que a postura de Davi diante
do povo deveria ser diferente. Deveria governar quase como um semi-Deus. Cheio
de uma empáfia idólatra e prejudicial. Davi não estava disposto a se humilhar
por qualquer motivo, já se humilhara para proteger sua vida diante do Rei
Filisteu se fazendo de louco (1Sm 21.10-15), mas irá fazer até mesmo aquilo que
aos seus olhos parece humilhante desde que agrade a Deus. Davi não quer agradar
os homens imitando o culto pagão socialmente reconhecido, mas quer adorar
unicamente o Senhor.
Davi não se vê maior do que o povo pelo simples fato de
governar a Israel, mas reconhece, que ocupa essa lugar, porque foi colocado
nessa posição pela graça e a misericórdia dAquele que o retirou detrás das
ovelhas de seu Pai, Jessé.
O problema social de Mical está em acreditar que existem
homens melhores do que os outros, o tão nocivo orgulho, mas Jesus também não
temeu ser reconhecido como homem, pois a Palavra afirma que “reconhecido em figura humana, a si se
humilhou, sendo obediente até a morte e morte de cruz” (Fl 2.8).
O problema
pessoal da ex-mulher de Palti se ouve em uma comparação de Davi ao rei
que conhecera em Saul, homem alto e aparentemente corajoso (porque não ousou
enfrentar Golias). Talvez Mical, em sua amargura, via seu marido como um
usurpador da dinastia que fora de sua família, que agora restabelecia casamento
com ela para angariar melhor posição com os benjamitas.
O problema pessoal de Mical é a inveja, mas devemos
imitar o esvaziamento e a humilhação de Jesus para sermos exaltados, porque, o
nosso suficiente Salvador foi exaltado “sobremaneira
e lhe deu nome acima de todo nome” (Fl 2.9).
Cuidado para não desprezar o melhor de alguém como fez
Mical com os sentimentos vis da arrogância, orgulho ou inveja e entende que
essas inimigos podem funcionar como ruídos que dificultam as pessoas ímpias de
admirarem o seu genuíno amor pelo Senhor.
Nenhum comentário:
Postar um comentário