A FALSA MORAL
“Salomão fez subir a filha de Faraó da
Cidade de Davi para a casa que a ela edificara, porque disse: Minha esposa não
morará na casa de Davi, rei de Israel, porque santos são os lugares nos quais
entrou a arca do Senhor” (2 Crônicas 8.11)
A discussão moral parece abstrata e aqueles que se
dedicam a essa matéria podem ser taxados, pejorativamente, de moralistas,
porque se confunde moral com falsa moral. Contudo a pergunta sobre o que é
certo e o que é errado é sempre pertinente, contudo para respondê-la se faz
necessário considerar: certo ou errado em relação a quê?
Existem duas maneiras de responder a essa questão: uma
proposta absoluta e outra relativista.
A primeira é admitir a existência princípios absolutos
(ética das virtudes). Nessa alternativa, o certo é aquilo que se adequa a esses
padrões pré-estabelecidos. Na Grécia, Aristóteles (384-322 a.C.) era defensor
dessa ideia afirmando que um padrão ético é aquele que desenvolve melhor as
virtudes de um indivíduo. Contudo o Filósofo de Estagira acreditava que, para
que essas virtudes se desenvolvessem de maneira adequada, se fazia necessário vir
das classes mais abastadas.
A segunda é considerar que os padrões são relativos (ética
das consequências). Essa vertente parte da ideia do filósofo Maquiavel (1469-1527)
na qual os fins justificam os meios. Essa ideia consequencialista se pauta ou
pelo pragmatismo, firmada no filósofo americano John Dewey (1859-1952), na qual
o certo é aquilo que dá certo ou no utilitarismo de Start Mill (1806-1873), em
que o certo é aquilo que proporciona o maior número de pessoas felizes.
Partindo do pressuposto de que casamentos sempre foram
utilizados para alianças políticas entre os governantes do mundo ao longo da
história. Em sociedades em que a poligamia era praticada muitos casamentos
proporcionavam mais e mais aliados políticos. Salomão, tomando a filha de
Faraó, está fazendo um “amigo” político importante para Israel. Dessa maneira, avaliando
o casamento de Salomão pela ética das consequências, os fins eram benéficos
(utilitarismo) e evitavam um perigoso inimigo militar (pragmatismo). Entretanto
esses parâmetros garantem a legitimidade das atitudes humanas inclusive as
nossas?
Percebemos nesse versículo que a ética das virtudes moldada
pelos padrões judaico-cristãos identifica que existem padrões universais,
claramente expostos na Palavra, os quais devem ser obedecidos não para alcançar
a felicidade (como afirmava Aristóteles), mas para a maior glória de Deus.
Nessa perspectiva, Paulo afirma aos Gálatas “já
não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que, agora, tenho na
carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por
mim” (Gl 2.20).
Se administrarmos nossa conduta por uma via relativa
precisaremos anestesiar nossa consciência, invalidar a Palavra e buscarmos uma
vida de alternativas, pois diante da verdade que está na revelação específica
do Senhor o certo é legitimado pela Palavra, está em harmonia com a consciência
e não precisa de arranjos legais para existir.
Salomão fora o mais sábio dos Reis (1Rs 3.12), estando
abaixo apenas do Senhor Jesus (Mt 12.44), contudo afirma: “o temor do SENHOR é o princípio do saber, mas os loucos desprezam a
sabedoria e o ensino” (Pv 1.7). O Terceiro Rei de Israel sabia, por meio de
Deuteronômio 7.1-4, que o povo de Deus não contrairia matrimônio, tampouco dar
em matrimônio seus filhos às nações que o Senhor expulsou do meio deles.
O Novo Testamento adverte sobre o perigo do jugo
desigual: “não vos ponhais em jugo
desigual com os incrédulos; porquanto que sociedade pode haver entre justiça e
a iniquidade?” (2Co 6.14). Vemos
esse perigo na vida do rei Salomão, porque teve seu coração pervertido pelas
mulheres ímpias com as quais contraíra casamento de tal maneira que seguiu
Astarote o deus dos Sidônios, ergueu santuário a Quemos, deus do Moabitas.
Quando jovens começam relacionamentos em jugo desigual e se dizem sábios e
conscientes de maneira que o namoro não interferirá a intimidade que têm com
Deus, deveriam se recordar do exemplo desse sábio rei de Israel.
Portanto, parafraseando o Salmo 119.9, de que maneira o
homem guardará puro seu caminho? Observando o seu caminho, sua vida, sua
conduta (mesmo as menores) segundo a Palavra de Deus.
Aquele que é infinitamente maior do que Salomão, cumpriu
cabalmente toda a lei subindo até o madeiro e, por isso, por meio dEle e apenas
por meio dEle podemos cumprir a vontade de Deus e agradá-Lo.
A filha de Faraó estava há algum tempo na casa de Davi,
onde o rei de Israel morava. O convívio com essa princesa revelou suas práticas
pagãs, as quais vieram de encontro aos princípios que aprendera com seu pai.
Como nossa consciência nos atormenta diante daquilo que não se afinou aos
termos da Palavra. Contudo a mesma razão que vê a incompatibilidade da Palavra
com nossa conduta ou com o procedimento alheio, por ser influenciada pelo
pecado, começa a arrumar desculpas baseadas no merecimento ou na necessidade para
que a consciência se adeque àquela situação, mesmo que ela não se coadune com a
vontade do Senhor.
Tiago afirma que “cada
um é tentado pela sua própria cobiça, quando esta o atrai (a ideia da palavra
grega ἐξέλκω -
exelko é de colocar uma isca para o peixe) e seduz.” (Tiago
1.14). A cobiça de Salomão o levou gradativamente a uma vida de maior pecado e
abandono do Senhor, por isso, o Senhor retira-lhe dez tribos e dá a Jeroboão
(que no reinado de Roboão, seu herdeiro, serão o Reino de Israel ou Reino do
Norte ou Efraim).
Aquele que é maior do que Salomão, apesar de ser igual a
nós em todas as coisas se diferenciava por não pecar (Hb 4.15), por isso, mesmo
sendo tentado no deserto por satanás pela fome, pelas riquezas ou pelo poder
soube ser fiel. Resistiremos a todas as tentações em Jesus, por nenhuma delas é
sobrenatural e teremos o devido escape do Senhor (1Cor 13.10).
Salomão ao invés de romper com o pecado e as aparentes vantagens
que ele parecia proporcionar, passa a conviver com ele e começa a arrumar subterfúgios
legais para essa união impossível de santidade e impureza. Ele sabia que deixar
sua esposa vivendo em Israel tão próxima da arca do Senhor não era apenas
perigoso (lembremo-nos de Nadabe e Abiú), mas indecente, por isso, ele tem uma
ideia infantil construir um palácio fora de Jerusalém como se o erro estivesse
baseado em um lugar ou em uma cultura. O que é errado é errado dentro ou fora
da igreja, porque Deus domina sobre todos os lugares.
Geralmente, uma vida parcial com Deus se exterioriza em escrúpulos
artificiais que caracterizam a falsa moral. Para Salomão retirar sua esposa de
Jerusalém era uma grande obra, mas indicava apenas como ele estava sendo atraído
e seduzido pelo pecado e como caminhava, mesmo sem perceber, para a morte
(Tiago 1.15).
Aquele que é maior que Salomão jamais fez conchavas com o
pecado. Quando os escribas e fariseus levam a Jesus uma mulher surpreendida em
adultério. O Senhor não disse que seria ilícito matá-la como a lei pedia (mesmo
que essa prática não fosse mais utilizada na Palestina dominada por Roma), mas os
orienta a ver se não eram tão pecadores como ela, tampouco tem uma postura
flexível quanto a moral, mas ordenou “vá
e não peques mais”.
Portanto, a partir de Jesus Cristo vemos a perfeita
conduta que segue a Palavra até as últimas consequências, que vive aquilo que
prega e que jamais negociou a verdade para benefícios temporais.
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