O batismo de João
O batismo e a ceia são os dois únicos sacramentos ordenados
pelo Senhor. Segundo a Confissão de Fé de Westminster (CFW, XXVII,1): “os
sacramentos são santos sinais e selos do pacto da graça, imediatamente
instituídos por Deus, para representar a Cristo e seus benefícios e para
confirmar nosso interesse nele, bem como para fazer diferença visível entre os
que pertencem a igreja e ao restante do mundo, e, solenemente, compromete-los
no serviço de Deus em Cristo, de acordo com sua Palavra”.
Os sacramentos possuem duas partes: um sinal externo e
sensível ( no batismo, “o elemento exterior usado é a água com a qual a
pessoa é batizada em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo, por um
ministro do Evangelho, legalmente chamado para tal fim”CFW, XXVIII, 2 ; na
Ceia, o pão e o fruto da videira.), que não pode ser usado pela conveniência do
homem, mas segundo a determinação de Cristo na Palavra, e a parte interna e
espiritual (Breve Catecismo de Westminster, pergunta 163).
Segundo o Breve Catecismo de Westminster (pergunta 94), o
batismo “é um sacramento no qual o lavar com água, no nome do Pai, e do
Filho e do Espírito Santo significa e sela nosso externo em Cristo, nossa
participação dos benefícios do pacto da graça e nosso comprometimento de
pertencermos ao Senhor”.
O batismo está relacionado a circuncisão (Gn 17.9-14), ou
seja o ato de colocar uma pessoa debaixo da aliança com o Senhor. Segundo
Calvino (Institutas, vol. 3, p.169) o batismo e a circuncisão são
semelhantes no fato de ambos sinalizarem a promessa da misericórdia, remissão
dos pecados e vida eterna aquele que o recebe; na realidade simbolizada é a
mesma, a purificação e a mortificação, assim como no fato de Cristo ser o mesmo
fundamento da da circuncisão e do batismo. Por isso, esse sacramento pode ser
administrado a crianças e adultos, não pode ser ministrado mais de uma vez (Ef
4.5) e não pode ser concedido sem critério algum, mas apenas aos convertidos
que professam publicamente sua fé e arrependimento ou aos filhos dos pais
crentes.
Apesar dessa ligação entre o batismo e a circuncisão os
judeus possuíam ritos de purificação (Hb 9.10) e, segundo Laubach (Comentário
Esperança de Hebreus, p. 54), os judeus costumavam batizar prosélitos
baseando-se nos banhos de purificação levíticos (Lv 14.8; 2Rs 5.14). As
religiões de mistério dos helenistas também possuíam ritos de purificação. O
batismo empreendido por João nas águas do Jordão seguia esse molde de rito de
purificação.
Há divergência na compreensão do batismo de João. A.A. Hodge,
comentando a Confissão de Fé de Westminster (p.458,459), que o batismo de João
é diferente do batismo cristão pelos seguintes aspectos: a.) João não é um
apóstolo do Novo Testamento (Lc 1.17); b.) o seu batismo não era em nome do
Pai, e do Filho e do Espírito Santo; c.) seu batismo era para arrependimento e
não para a fé em Cristo; d.) seu batismo não introduzia a comunhão da igreja
como os apóstolos fizeram (At 2.41,47); e.) as pessoas batizadas por João foram
rebatizadas (At 18.24-28; 19.1-5). A.A. Hodge entende que até mesmo o batismo
empreendido pelos discípulos antes da crucificação (Jo 3.22; 4.1,2) não eram
válidos.
Calvino (Institutas, vol. 3, p.156) defende que o
batismo de João é essencialmente o mesmo que foi confiado aos apóstolos, pois
ambos aceitavam a mesma doutrina: batismo para arrependimento e o ministravam
para a remissão dos pecados. Berkhof (Teologia Sistemática, p.576) sobre
o batismo cristão e aquele empreendido por João, afirma: “alguns acham que a
prova da diferença essencial entre os dois está em At 19.1-6, qu,e segundo
eles, registra um caso em que alguns que tinham sido batizados por João foram
rebatizados. Mas essa interpretação está sujeita a dúvidas. O que parece
correto é dizer que os dois são essencialmente idênticos” (grifo
nosso). De fato, não há indícios de que Apola fora rebatizado (At 18.25).
Calvino, defendendo que os
tais de Atos 19.1-6, não foram rebatizados argumenta: “Se o primeiro Batismo fosse defeituosoa e nulob por causa da ignorância
dos batizandos, devendo eles ser rebatizados, os próprios apóstolos teriam que
ser os primeiros a ser batizados de novo, porque, após o Batismo, passaram três
anos sem ter grande conhecimento da verdadeira doutrina.” (Institutas,
vol.3, p.164).
Berkhof (Teologia
Sistemática, p.576) entende que existem semelhanças entre o batismo de João
e aquele oferecido pelos Apóstolos: a.) ambos foram instituídos pelo próprio
Deus (Mt 21.25; Jo 1.33); b.) relacionavam-se a mudança radical de vida (Lc
1.1-17); c.) estabelecem uma relação com o perdão dos pecados (Mt 3.7,8; Mc
1.4; Lc 3.3) d.)usam do mesmo elemento material, a água. Contudo o batismo de
João é diferendo do oferecido pela igreja, porque: a.) pertencia a antiga
dispensação; b.) harmonizava-se com a dispensação da lei, mesmo se excluir a
fé; c.) foi planejado para judeus; d.) “visto que o Espírito Santo ainda não
fora derramado na plenitude do Pentecostes, o batismo de João o batismo de João
ainda não era acompanhado por tão grande porção de dons espirituais como o
batismo cristão”.
Se ambos batismos não são
essencialmente diferentes, o de João é inferior ao empreendido pelos apóstolos,
porque o batismo de João atinge apenas o externo, enquanto o de “Cristo é o
autor da graça interna” (Institutas, vol.3, p.157). Portanto, de
fato o batismo de João cessou não para dar lugar a algo inédito, mas algo
maior, um batismo no Espírito e no fogo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário