A importância da
ressurreição de Cristo no livro de Jó
Segundo Anglada[1], a
Bíblia protestante possui exatamente os mesmos 39 livros que o cânon
massorético (a bíblia judaica que Jesus conhecia).Contudo Archer[2]
afirma que a divisão dos livros sagrados, que encontramos e nossas Bíblias (livros
da lei, livros de história, livros de poesia e sabedoria e livros proféticos),
é baseada na edição adotada pelos compiladores da Septuaginta (LXX – tradução da
Bíblia do hebraico para o grego). No texto massorético, o livro de Jó se
encontra junto com Salmos e Provérbios na divisão “escritos” (Kethubhim). Dessa maneira, pelo fato do
Texto Sagrado não adotar uma divisão cronológica, mas tópica, alguns incautos
podem julgar o livro de Jó mais recente do que o de Moisés.
Cronologicamente, segundo Kaiser[3], deve
ser classificado dentro da Era Patriarcal (2100-1800 a.C.), porque:
a.) a
riqueza de Jó (1.3) é semelhante a de Isaque (Gn 26.13,14);
b.) o
aumento do gado de Jó (1.10) é semelhante a de Labão (Gn 30.29,30);
c.) Como
os Patriarcas prefere o termo Shaddai
(שַׁדַּי ) para se referir a Deus. Essa palavra tem 43 ocorrência no
Antigo Testamento sendo 23 delas no livro de Jó, 3 em Salmos, 2 em Cantico dos
Cânticos, 3 em Ezequiel, 1 em Rute e 11 no Pentateuco (6 em Gênesis, 1 em Êxodo
e 4 em Êxodo);
d.) Como
nos Patriarcas não há sacerdotes e sacrifícios no templo (Jó 1.5);
e.) O
conteúdo dos sacrifícios empreendidos por Jó são semelhantes aos de Balaão (Nm
23.1-3);
f.) Jó
viveu 140 anos (Jó 42.16) e José 110 (Gn 50.23);
g.) Em
Jó 42.11, onde a Almeira Revista e Atualizada (ARA) traduz por dinheiro, no
hebraico, a palavra empregada é qesitah (קְשִׂיטָה ), assim como nos tempos de Jacó (Gn 33.19; Js 24.32);
h.) A
morte de Jó é descrita de maneira semelhante a de Abraão e Isaque (compare Jó
42.7 com Gn 25.8; 35.29).
Kaiser[4]
entende que o livro de Jó, do qual não conhecemos o autor, é peculiar, porque,
apesar de ser tido como um literatura sapiencial, todavia além do diálogo
poético traz, também, estrutura narrativa. Essa combinação faz dele um
problema. Entretanto, como afirma Hill et al[5],
traz de maneira singular a perspectiva bíblica para o sofrimento.
Nesses últimos cinco mil anos, pessoas ou
comunidades, como Jó, perguntam-se a respeito do sofrimento e buscam o auxílio
de Deus para isso. Não são poucos os que avaliam a dor pelo princípio de
retribuição e precisam compreender que até mesmo pessoas íntegras, retas,
tementes a Deus e dispostas a se desviar do mal estão suscetíveis ao
sofrimento.
Em uma sequencia funesta e rápida, Jó perde seus
bens, filhos, o respeito da esposa e dos amigos (Elifaz, Bildade e Zofar), que,
depois de consolá-lo, passam a expor para ele o destino dos perversos e depois
a acusá-lo, pois buscavam um motivo pelo qual passava por tanto sofrimento.
Bildade, segundo Jackson[6], é
o mais moralista dos “amigos” de Jó tentando convencê-lo de que Deus tem uma
causa para tantas desgraças, porém, diante de tamanha acusação, Jó declara sua confissão
de fé: “porque eu sei que o meu Redentor vive e por fim se
levantará sobre a terra. Depois, revestido este meu corpo da minha pele, em
minha carne verei a Deus. Vê-lo-ei por mim mesmo, os meus olhos o verão, e não
outros; de saudade me desfalece o coração dentro de mim” (Jó 19.25-27). Essa declaração encontraria pleno vigor
milênios depois em Cristo.
Jó tinha um conhecimento íntimo
de que ele possuía um redentor. Futuramente, esse termo seria usado para se
referir aquele que resgata a dívida de alguém (Lv 25.25,26). Esse Remidor é
pessoal (meu redentor – גֹּ֣אֲלִי ) e específico que, mesmo futuro,
tem implicações na sua vida presente e quanto mais a nós que vivemos nos
últimos dias (At 2.17), de forma mais vívida do que Jó precisamos reconhecer
que ele vive, ou seja, não é uma ideia abstrata com pouca relevância prática em
nossas vidas.
O tempo de ação desse Redentor
se daria “no fim”, todavia, o que era escatológico para Jó é a realidade
fundamental de nossas vidas. A sua atitude de “se levantará” implica
julgamento. Dessa maneira, Jó está afirmando que o julgamento de seus amigos é
distorcido em relação Àquele que o julgará no fim. Mostra que não adianta ser
amado pelos homens e ser odiado por Deus. Independente da classe social ou do
poder político-econômico, aqueles que não estiveram em Jesus clamarão no
derradeiro dia: “Caí sobre nós e
escondei-nos da face daquele que se assenta no trono e da ira do Cordeiro”
(Ap 6.16).
No séc. I da era cristã,
algumas pessoas partindo do pressuposto de que o corpo era mau e essencialmente
ligado ao pecado começaram a defender que Jesus não poderia ter um corpo real,
mas apenas aparente. Esses hereges eram chamados de docetistas que vem do verbo grego dokéo (δοκέω), que significa parecer, pois acreditavam que se Cristo
era Deus não podia sofrer de forma real. Não é à toa que o Credo Apostólico
enfatiza que ele nasceu da virgem Maria.
Para muitas pessoas ainda é
difícil compreender que “foi ele
[Jesus] tentado em todas as coisas, à
nossa semelhança, mas sem pecado” (Hb 4.15). O pecado não faz parte da
essência da criação, mas Le é um acidente. Wolters[7]
compara a ação do pecado na criação a uma criança que contrai uma doença na
infância, por isso, a criança se desenvolve paralela a doença que possui e,
assim, não se consegue perceber todo o seu potencial, porque a enfermidade
utiliza-se de sua força para sobreviver. A criança sendo curada passa a desenvolver-se
plenamente. A doença é o pecado e a cura é Cristo. Jesus mostra que é possível
viver sem pecar e nos compartilharemos dessa realidade na regeneração.
Ainda se nutre a ideia de que a
estrutura criada por Deus está invalidada pelo pecado, por isso se luta contra
o sexo e não a sua direção, a luxúria. O cristão não deve combater ou destruir
as estruturas, mas influenciar biblicamente a sua direção (obediência ou
rebeldia) que as pessoas impõem à criação. “O
pecado não anula a criação, nem se identifica com ela. Criação e pecado
permanecem distintos, no entanto intimamente entrelaçados na nossa experiência”[8].
Walsh e Middleton afirmam: “os cristãos dos últimos dias são chamados
para empenharem-se na tarefa de refletir a imagem de Deus como ministros da
reconciliação. Essa é a tarefa redentora: é vocação do corpo de Cristo
trabalhar em um mundo caído, procurando trazer o perdão, a cura e a renovação
do domínio de Deus para cada área da vida”[9].
Jó tem consciência de sua
condição física e perdeu toa esperança quanto a continuar a vida, pois afirma
que depois de consumida (נקף )
a sua pele” (Almeida Corrigida
Fiel-ACF), pois está tomado de tumores malignos da planta dos pés até o alto da
cabeça (Jó 2.7) de tal maneira que se raspava-se com um caco de telha (Jó 2.8),
todavia ele está mostrando aos seus amigos que apesar de ele não ter mais condições
de recuperação para os homens, aquela pela apodrecia pela doença seria
restaurada e ele veria a Deus. Todo o sofrimento e humilhações desses dias não
tinham mudado seus princípios, tampouco afetado o seu coração.
Defende que verá com seus
próprios olhos verão a Deus. Dessa maneira, acredita na ressurreição do corpo e
não em um infinito e inútil processo de reencarnação. A convicção de que o
corpo não é mal, tampouco uma prisão da alma, mas uma criação boa de Deus que
será restaurada definitivamente na segunda vinda de Jesus. Só a ressurreição
pode nos dar pleno consolo, porque nos garante um dia estarmos em
reconfigurados céus e terra (2Pe 3.13) e não em desencontros
reencarnacionistas.
Da mesma maneira como Jó,
podemos esperar em Jesus nosso redentor, ou seja, aquele que veio pagar a
dívida que nossos primeiros pais contraíram no Éden. Um dia ressuscitaremos em
nosso corpo para vivermos em um mundo onde o pecado não mais nos influenciará.
[1]
http://www.monergismo.com/textos/bibliologia/canon_anglada.htm. Acessado no dia
1º de abril de 2014 às 12h
[2]
ARCHER, G.L. Merece Confiança o Antigo
Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1984. p.69.
[3] KAISER
JR, W.C. O Plano da Promessa de Deus.
São Paulo: Vida Nova, 2011, p.65.
[4]
Ibidem, p. 138.
[5]
HILL, A.E; WALTON, J.H. Panorama do
Antigo Testamento. São Paulo: Vida Acadêmica, 2006, p. 357.
[6]
JACKSON, D.R. Clamor por Justiça: o
evangelho segundo Jó. São Paulo: Cultura Cristã, 2011, p. 81.
[7]
WOLTERS, A.M. A Criação Restaurada: base
bíblica par uma cosmovisão Reformada. São Paulo Cultura Cristã, 2006, p.
67.
[8]
Ibidem, p.67.
[9]
WALSH, B.J; MIDDLETON, J.R. A Visão
Transformadora. São Paulo: Cultura Cristã, 2010, p.76,78.
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