Reduzir ou não reduzir? Eis a questão!: a adolescência (parte 2 de
3)
Vivemos em uma sociedade em que a regeneração efetuada pelo
agir do Espírito Santo é um mito, uma lenda abominável que precisa ser extirpada,
todavia se acredita que um lugar (sistema carcerário), uma faixa etária (a
adolescência) e um processo de formação (educação) podem fazer alguém melhor
para si e para os outros indivíduos. Agora qual crença é mais ingênua?
O termo adolescência vem do verbo latino adolesco, is, ere (mais precisamente do particípio passado adulescens), que significa crescer,
desenvolver-se. Entretanto, segundo Bock et
al[1],
essa fase de desenvolvimento não possui critérios claros para ser delimitada,
porque “não é uma fase natural do desenvolvimento
humano”[2],
não porque seja anormal os transtornos que a puberdade causa nos indivíduos que
transitam da infância para a vida adulta, mas a sua duração e as suas implicações
sociais.
Segundo
Coutinho[3], “o conceito de adolescência surge na
cultura ocidental no contexto da consolidação do individualismo – cujo marco
histórico fundamental é a Revolução Francesa”. Dessa maneira, a adolescência é um fenômeno recente e que existem em
nossa sociedade. Mallinowski[4],
pesquisando a cultura dos nativos da Ilha Trobriand da Nova Guiné, não encontra
a presença dessa fase de desenvolvimento, mas as crianças se tornam adultos
quanto mais participam da vida e das decisões dos adultos. Em outros lugares
existem ritos de passagem que marcam essa transição. Bock et al[5]
defende que “a adolescência é uma fase
típica do desenvolvimento do jovem de nossa sociedade. Isso porque uma
sociedade evoluída tecnicamente, isto é, industrializada, exige um período para
que o jovem adquira os conhecimentos necessários para dela participar”.
Portanto, em
nossa sociedade e a partir do século XIX, entendemos, nas palavras de
Eisenstein, que a adolescência acontece entre as “mudanças
corporais da puberdade e termina quando o indivíduo consolida seu crescimento e
sua personalidade, obtendo progressivamente sua independência econômica, além
da integração em seu grupo social”[6]. Apesar
de não existirem parâmetros sólidos para delimitar o período dessa fase de
desenvolvimento a Organização Mundial da Saúde (OMS) estipula que ela dure
entre 10 e 19 anos; a Organização das Nações Unidas (ONU) de 15 a 24 e o
Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA – Lei 8.069/1990 art. 2º ) de 12 aos
18 anos.
Da mesma
maneira que se convencionou aceitar que haja adolescência, igualmente, passou a
se inferir que nesse período o indivíduo não tem total condição de responder
pelos seus atos. Quando um adolescente pratica uma infração, o Estado
aplica-lhe medidas sócio-educativas tais como I – advertência; II – obrigação de reparar o dano (apenas se existirem
provas contundentes); III – prestação de serviços à comunidade; IV – liberdade
assistida; V – inserção em regime de semi-liberdade; VI – internação em
estabelecimento educacional (ECA, IV, art. 112).
É um anacronismo tentar ver
adolescência nas Escrituras Sagradas, todavia isso não quer dizer que, na
suficiência da Palavra, não haja subsídio necessário para discutirmos o que é
próprio para o jovem.
A Bíblia admite:
·
A criança pequena/filho: יָלַד (yalad), παιδίον (paidíon);
·
A criança que pode ser ensinada: נַעַר (na’arâ), νέος (neós);
·
O jovem em idade para se casar: בָּחוּר (barur), νεανίσκος (neavískos).
A criança (נַעַר) deve ser rigorosamente educada,
porque a estultice (אִ֭וֶּלֶת/’iwwelet: tolice, insensatez ou
loucura) está ligada ao seu coração e só a vara da disciplina poderá curá-la.
Assim como o bordão do pastor é consolo da ovelha (Sl 23.4), da mesma maneira o
chinelo do Pai (que disciplina e não espanca) é consolo da criança que
reconhece com maior clareza seus limites e sabe por qual caminho é seguro
caminhar.
Quando a educação, que começa no lar, imprime valores claros e elevados nas
crianças, estas naturalmente respeitarão os professores e as autoridades
constituídas (civis ou eclesiásticas) da mesma maneira como respeitam seus
pais. A crise de valores que vivemos ocorre em uma sociedade que não tem mais
nítida a noção de autoridade. Onde todos têm direito a tudo sem deveres,
ninguém pode se sustentar por muito tempo.
Jesus concorda com a regra mosaica (Êx 21.17-Mt 15.2) de que o filho que
ofendesse seu pai deveria ser morto e daí vem a promessa de dias prolongados a
filhos que honram o pai e a mãe (Êx 20.12).
Portanto, por convenção contrária à Palavra, passou a se conceder ao
adolescente uma moratória indevida, ou seja, o direito de cometer os mais
torpes delitos e crimes (sendo por isso até mais facilmente aliciado pelo crime
organizado) e, até os 18 anos sem se responsabilizar pelos deus atos de maneira
plena.
[1]
BOCK, A.M.B; FURTADO, O; TEIXEIRA, O.L.T. Psicologias:
uma introdução ao estudo da Psicologia. São Paulo: Saraiva, 1995, p.
255-258.
[2] Ibidem,
p.255.
[3] COUTINHO,
L.G. A Adolescência na Contemporaneidade:
ideal cultural. Revista de Psicanálise, ano XVII, no 181, p. 17.
[4] In BOCK,
A.M.B; FURTADO, O; TEIXEIRA, O.L.T. Psicologias:
uma introdução ao estudo da Psicologia. São Paulo: Saraiva, 1995, p. 256.
[5] Ibidem,
p. 257.
[6]
EISENSTEIN, E. Adolescência: definições
conceitos e critérios. Revista Adolescência e Saúde, vol. 2, no
2, 2005, p.1.