A bênção do
casamento
Se o maior objetivo do homem é glorificar a Deus e se alegrar
nele para sempre (pergunta um do Catecismo Maior de Westminster), o mesmo vale
para o matrimônio cristão. Com certeza, o grande problema de inúmeras famílias
está no fato de homens e mulheres irem para o casamento como um meio de
alcançarem uma felicidade egoísta, um forma pecaminosa de angariar glória para
sei mesmo fazendo do outro um objeto dos meus anseios escusos.
Contudo esse
falso matrimônio nunca atinge os propósitos para os quais foi criado por Deus
tais como: “o auxílio mútuo do marido com
a mulher”, “a propagação da raça
humana por uma sucessão legítima e da Igreja por uma semente santa” e “impedir a
impureza” (Confissão de Fé de Westminster, XXIV, 2).
Dessa maneira, no
casamento, o homem encontra sua auxiliadora idônea (Gn 2.18), a qual ama como a
parte mais frágil e recebe dela respeito e submissão como cabeça da família (Cl
3.18,19; 1Pe3.2). Nessa relação, firmada no amor e no respeito, o casal, dentro
de suas possibilidades físicas (haja vista que a queda possibilita a inversão
da bênção de Gn 1.28 trazendo o problema da esterilidade a muitos casais) tem
filhos debaixo da aliança (Ml 2.15). No casamento, o homem e a mulher se preservam
das concupiscências da carne, ou seja, da fornicação (porneia – πορνεία).
Calvino afirma: “ele [Paulo] requer daqueles que se deixam
influenciar pelo vício da incontinência que busquem o recurso desse antídoto [o
casamento]”[1].
O vínculo matrimonial, consumado no ato sexual, é tão importante que não poder
ser sonegado um do outro senão por três critério: sem consentimento mútuo, para
a oração e por um período determinado, pois essa atitude aparentemente piedosa traz tentação para a vida dos cônjuges,
pois, segundo Kistemaker, “o apóstolo adverte
a seus leitores da presença de Satanás, que busca tirar proveito das
debilidades humanas, tentando-nos ao adultério”[2].
O casamento é, além de
tudo isso, um voto feito diante do Senhor, e a Bíblia diz que Deus não se
agrada do voto do tolo (Ec 5.4), ou seja, aquele que de forma precipitada
promete o que não é capaz ou lhe causa grande pesar em cumprir, tal como algo
que o Senhor não requer em sua Palavra. Vejamos o triste exemplo de Jefté que
teve de sacrificar sua própria filha, a quem amava, porque agiu de maneira
precipitada, movido pela superstição (Jz 11.31-34).
Tendo em vista que o
casamento envolve muitas responsabilidades e disposição em se dar ao outro,
cerca de 24,6% (IBGE, 2013) dos jovens entre 25 e 34 anos ainda moram com os
pais, o que forma a chamada “geração canguru”, todavia, como afirma Pearcey “os indivíduos não conseguem desenvolver
toda a sua verdadeira natureza, a menos que participem de relações sociais,
como casamento, família e igreja”[3].
Pearcy, rebatendo a
ideologia iluminista de Rousseau de que a sociedade corrompe o homem, defende
que, por causa do fato de ter sido feito à imagem e à semelhança de Deus (doutrina
da imago Dei de Gn 1.26), uma
substância em três pessoas. Os seres humanos buscam essencialmente
associarem-se. Hoekema reforça o pensamento de Pearcy defendendo que “somente por meio de contato com os outros
descobrimos quem somos e quais nossas forças e fraquezas. É somente na comunhão
com os outros que crescemos e nos tornamos maduros”[4].
Hoekema afirma: “o casamento, sem dúvida, revela e ilustra
mais plenamente do que outra instituição humana a polaridade e a
interdependência da relação homem-mulher. Mas não o faz em sentido exclusivo.
Pois o próprio Jesus, o homem ideal, nunca foi casado”[5].
O Catecismo Maior de
Westminster, na vigésima pergunta, entende a ordenança do matrimônio como uma é
uma das atitudes providenciais do homem quando foi criado e, hoje, é poderoso
antídoto contra nossa inclinação para o pecado e a prostituição, assim como se
constitui em poderosa escola que refina nosso comportamento. Contudo só
redundará nos benefícios previstos se servir exclusivamente para a glória de
nosso Senhor.
Portanto, se as vozes
pessimistas decretam o fim do casamento e, consequentemente, o da família, essa
falsa constatação só pode ser proveniente daqueles que utilizaram do matrimônio
para sua glória pessoal e para fins egoístas.
[1]
CALVINO, João. 1Coríntios. São
Bernardo do Campo-SP: Parakletos, 2003, p.200.
[2]
KISTEMAKER, Simon. Comentario al Nuevo
Testamento: 1 Corintios. Kalamazoo: Libros Desafio, 1998, p.191.
[3] PEARCEY,
Nancy. Verdade Absoluta: libertando o
cristianismo de seu cativeiro cultural. São Paulo: CPAD, 2012, p. 149.
[4]
HOEKEMA, Anthony. Criados à Imagem de
Deus. São Paulo: Cultura Cristã, 1999, p.93,94.
[5] Ibid, p.
93.