Lux Aeterna
Nessa semana, fomos desafiados por nosso maestro, o irmão
Jessé, a ouvirmos a música Lux Aeterna
(Luz Eterna) do compositor austríaco Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791). Essa
é uma canção de singular beleza que ouvir faz, no mínimo, bem ao ouvidos.
Contudo gostaria de tecer algumas considerações sobre sua letra e contexto
dessa bela canção.
Lux Aeterna
compõe uma obra maior de Mozart: o sinistro e lendário Requiem, que nada mais é do que as músicas que serão cantadas em um
ofício fúnebre.
Mozart nasceu em uma família de músicos e, como gênio,
aos cinco anos já tocava e compunha chegando a ganhar um pequeno salário na
igreja do Arcebispo de Schrattenbach. Há quem diga que o Requiem fora encomendado pelo músico italiano medíocre Antônio
Salieri (1750-1850) que era o compositor oficial do arquiduque José II da
Austria e que possuía uma rivalidade com o prodigioso compositor de Salzburgo.
Outros dizem que um enviado do conde de Walsegg-Stuppach que perdera sua esposa
encomendara no anonimato.
A realidade é que essa foi a última composição desse
notável músico. Escrita em Ré Menor, mas que Mozart não conseguiu finalizar.
Antes de sua morte prematura atribuída por alguns a um envenenamento provocado
por Salieri, outros ao amante de sua esposa, mas, recentemente, a Universidade
de Amsterdã constatou que esse gigante morrera de uma infeção de gargante que
se espalhou afetando os seus rins. Quem finalizou o Requiem, inclusive Lux
Aeterna, foi seu discípulo Franz Xavier Süßmayr (1766-1803).
Mozart foi ligado toda a sua vida a seita Romana. A morte
lhe era um tema que misturava medo e atração. Lux Aeterna compõe as músicas de uma missa romana dedicada aos
mortos. De fato, a intenção da música e a cosmovisão em que foi desenvolvida é
fruto da heresia da seita romana que insiste em orar por aqueles que partiram.
Contudo isso não atenua a sua beleza, muito menos nos impede de extrair dela
algo a fomentar nossa reflexão.
Na Missa Romana, o Lux
Aeterna encontrava-se no momento em que as pessoas se levantavam para
participar da Ceia e ela é uma oração que roga que Deus dê a luz eterna ao que
morreram confiando na misericórdia do Senhor. O grande erro da música está em
acreditar que Deus possa rever seus decretos elegendo o ímpio que rejeitara antes
da fundação do mundo. O Senhor não muda de ideia e seus decretos emanam de sua
suprema perfeição.
Todavia há uma ideia verdadeira que se sobressaia até
mesmo à idolatria e à heresia: a necessidade de uma luz eterna.
Moisés afirma que “a
terra estava sem forma e vazia, havia trevas sobre a face do abismo”
(Gênesis 1.2). A luz foi a primeira providência do Criador para dar forma ao
informe, ordem (cosmos) à desordem (caos) e a primeira providência para dar
encher o que estava vazio foi criar luzeiros: o sol para governar o dia e a luz
para presidir a noite. Dessa maneira, percebemos que o natural era o caos e as
trevas e que a ordem e a luz têm como fonte a graça.
Mesmo antes de Adão pecar luz e trevas alternavam-se,
contudo, na sua infinita sabedoria, Deus fez que um amontoado rochoso branco
fosse preso a terra pela gravidade. Apenas o Criador poderia calibrar o força
gravitacional de tal maneira que a lua estaria sempre caindo, contudo sem ser
tão pesada que caísse na terra e nos esmagasse e nem tão leve que se perdesse
na imensidão do espaço, mas presa por esse miraculoso laço reflete a luz solar
em nossas noites para nos advertir que a luz resplandece nas trevas.
O sol e a lua funcionaram como parábolas que apontavam
para Jesus Cristo, o sol nascente que veio das alturas nos visitar (Lucas 1.78),
uma luz que as trevas não podem prevalecer (João 1.5) e que erradia seu
esplendor de tal maneira que aqueles que creem nele não andam nas trevas (João
12.46).
Se essa luz que emana de Jesus já irradia os crentes e os
faz ter uma vida diferente (1João 2.9) agora, enquanto esperamos a “liberdade da glória dos filhos de Deus”
(Romanos 8.21), muito mais quando o Senhor vier com novos céus e nova terra.
João afirma que o Cordeiro será uma lâmpada tal que não será mais necessário
nem o sol nem a luz, assim como sua luminosidade extinguirá a própria noite
(Apocalipse 21.23-27).
A noite sempre
inspirou medo no homem, pois o deixa cego e a mercê de perigos mortais. Até
mesmo o ímpio Mozart em seu desespero diante da morte e sua angústia nas
adversidades da vida sentia que era necessário o findar da noite. Então podemos
dizer, amparados nas Escrituras, ó noite, teu lugar terá um fim. Aquele que
criou a luz há de destruí-la naquele glorioso dia quando os eleitos verão a Luz
Eterna que é o própria Jesus Cristo.