O muro: reflexão
sobre A PAZ
“Ele é a nossa paz, o qual de ambos os povos fez um; e, derrubando a
parede de separação que estava no meio, na sua carne desfez a inimizade”
(Ef 2.14)
Construir
muros ou pontes possuem diferenças estruturais que vão além da disposição
daquele que as constroem. Os muros são relativamente fáceis, basta um amontoado de
tijolos para que ele apareça, mas, com as pontes, não é assim, porque desafiam
a mais implacável das leis: a da gravidade. Enquanto, naqueles os tijolos se
enfileiram e se colocam um sobre os outros usando dessa lei, que prende todos
ao chão, para se fincarem onde nascem, estas se lançam pelo horizonte,
corajosas e bem sustentadas. Contudo se diferenciam pelas finalidades, pois
aqueles nos dão a falsa sensação de segurança, como Davi afirma: “Elevo os meus olhos para os montes; de onde
me vem o socorro? O meu socorro vem do Senhor, que fez os céus e a terra” (Sl
121.1,2), estes nos levam ao contado com outras pessoas, o que nos inquieta pela certeza da inevitável avaliação.
A história é
feita de muros famosos: a muralha de Adriano (122), que tinha o propósito de
separar a Grã-Bretanha romana dos demais povos selvagens; a da china (7 a.C) ,
a de Berlim (destruída em 1989). O candidato republicano à casa branca, Donald
Tump, quer construir um muro de separação entre E.U.A e o México.
Paulo fala sobre uma parede de
separação (mesótoichon – μεσότοιχον) que se encontrava no templo de
Jerusalém, que possuía sete recintos, os gentios podiam entrar apenas no
primeiro desses e para evitar que ultrapassassem esse limite. O historiador
Flávio Josefo arfirma (Antiguidades 15.11)
que era simpático, de mármore e possuía a altura de 1,65 m e possuía a seguinte
inscrição: “NENHUM HOMEM DE OUTRA NAÇÃO [PODE] TEMPLO. E QUEM FOR APANHADO SERÁ
DECLARADO CULPADO POR SI MESMO, PELA PENA DE MORTE QUE NELE SE APLICARÁ”.
Essa
parede foi, de fato, destruída no ano 70 d.C. com a invasão de Tito Vespasiano,
por isso, o que Paulo está fazendo é uma alusão, na qual “a parede da separação que Jesus aboliu não é a barreira que separa o
mundo da igreja; é a barreira que segrega grupos e indivíduos uns dos outros
dentro da igreja” (John Stott).
O judaísmo no período de Paulo dividia gentios e judeus de
tal maneira que, ao verem Trófimo, no templo, pensando que fosse um gentio em
lugar proibido, queriam mata-lo (veja Atos 21.27-32). Jesus destruiu essa
cultura do ódio com a paz, porque ele é o “príncipe
da paz” (Is 9.6), todavia não é passiva, porque afirma: “Não penseis que vim trazer paz à terra; não
vim trazer paz, mas espada.” (Mt 10.34). A paz proposta pelo Senhor não se
vende para atingir supostos objetivos, mas permanece firme em valores
universais, que, quando flexionados, fatalmente degeneram e perdem a validade.
Por exemplo, concordar com o pecado e o crime, apenas para evitar embates é
trair a missão como covarde omisso, mas aqueles que forem fiéis até a morte
herdará a coroa da vida (Ap 2.10)
Hoje, um muro de metal com 2,20 m de altura e que se
estende por 80m para separa as 300 e 500 pessoas esperadas para a votação sobre
o impeachment na Câmara dos Deputados. O objetivo dessa cicatriz na capital de
nosso país é evitar confrontos entre pessoas que são pró ou contra o impeachment
da presidente Dilma, todavia o que ele realmente promove é a divisão mais
injusta de nosso povo.
“Nunca antes na história desse país” as cores da bandeira
deixaram de representar o povo brasileiro, mas uma parte dele, enquanto a outra
parte opta pelo vermelho, que caracterizou tantas vezes a prática de Estados
totalitário que perseguiram e mataram inocentes. Ambos os grupos concentram-se
em suas convicções e se recusam a dialogar se o outro grupo não estiver
disposto a concordar com seus argumento. Esse muro só aumenta essa terrível
disposição já bastante alimentada pela irresponsabilidade de líderes que governam
orientados pelas suas próprias vaidades e não pelo bem-comum. Como pacificar
esses grupos opostos e, de certa maneira, antagônico?
Jesus nos dá uma paz diferente daquela que o mundo é capaz
de legar (Jo 14.27), porque não uma história, tampouco uma promessa, mas uma
realidade inviolável (“porque ele[Jesus]
é a nossa paz” – Ef 2.14a), porque “Justificados, pois, pela fé, tenhamos paz com
Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo” (Rm 5.1).
Quando andamos com Jesus, temos a certeza de que essa paz
não precisa de grandes esforços, mesmo que nosso trabalho para a sua promoção
seja árduo, devemos nos recordar que o maior de todos os sacrifícios para
obtermos essa paz eterna foi conquistada definitivamente na cruz do calvário,
dessa maneira Jesus fez a paz (Ef 2.15) criando do judeu e do gentio um novo (aqui
Paulo usa o adjetivo kainós- καινός, que esse homem não é algo inédito,
mas reconfigurado, ou seja, no mesmo padrões da criação antes do pecado) homem.
O Messias, como arquiteto da paz pode fazer de “coxinhas” e “mortadelas” brasileiros
melhores, porque “Feliz a nação cujo Deus
é o SENHOR, o povo que Ele escolheu para lhe pertencer!” (Sl 33.12).
A paz proposta pelo Mestre é uma mensagem poderosa que
inquieta impacta (“proclamou a paz para vós
que estáveis longe e, da mesma forma, para os que estavam perto” – Ef 2.17).
Todos aqueles que tiverem seus alicerces abalados e comprometidos na
segunda-feira por causa das decisões do domingo fizeram desse governo um ídolo
que precisa ser desarraigado antes que traga maior prejuízo.
Nosso país precisa de paz, mas não aquela desafeita ao
combate no campo das ideias. A mera ausência de guerras é o curto espaço de
tempo em que as pessoas recarregam as armas. Necessitamos de uma paz real,
personalizada e poderosa cujo molde está em Jesus Cristo.